YURI GONZAGA DE SÃO PAULO
27/08/2015 Folha de São Paulo
O Google
deixará de exibir conteúdo secundário (como propagandas) que seja criado com a
tecnologia Flash no seu navegador Chrome a partir da próxima terça-feira (1º),
mais um passo de um vagaroso "sepultamento" do software, considerado
pesado e inseguro.
O que é
considerado parte essencial da página, como o vídeo que se pretende ver num
site de vídeos, será mantido intocado –ao menos por enquanto. Os elementos
bloqueados poderão ser vistos se o internauta clicar sobre eles.
Segundo
Michel Sciama, diretor de produtos de anúncios do Google, a mudança favorece os
internautas. "Principalmente no mundo de hoje, com os celulares exercendo
papel tão grande, já que o Android não suporta o Flash há muito tempo",
diz. O iOS e o Windows Phone tampouco têm compatibilidade com a tecnologia.
O HTML 5 é o
substituto do Flash, que é usado para conteúdo interativo ou animado, como
games, desenhos e propagandas, e pertence hoje à Adobe (desenvolvedora do
Photoshop e outros).
Há
ferramentas gratuitas disponíveis para a conversão de conteúdo em Flash para
HTML 5, como o Haxe, o Shumway e o Swiffy.
Para Juliano
Vidal, diretor tecnológico da empresa de distribuição de anúncios Melt, a
mudança pode gerar problemas. "Cerca de 90% das peças [publicitárias] que
recebemos foram criadas em Flash, e quase nada em HTML. A maior parte das
agências não está preparada."
Segundo ele,
parte dos anúncios precisaria passar por modificações demoradas e trabalhosas
para ser atualizada. "É uma coisa imposta pelo Google, que faz isso da mesma
maneira que a Microsoft fazia imposições antes, quando era dona de tudo [maior
participação no mercado de navegadores]", diz.
O executivo,
que elogia no HTML5 sua rapidez e a adaptabilidade a diferentes tipos de
dispositivo, diz que muitos internautas usam um browser antigo e incompatível
com esse novo padrão. "Principalmente em grandes empresas, há pessoas que
ainda usam navegadores como Internet Explorer 6 ou 7 [que não reproduzem
HTML5]."
"Não
tem a ver com forçar a mudança, nem somos os primeiros [a fazer isso]",
diz Fabio Coelho, presidente do Google no Brasil, questionado pela Folha
durante evento em São Paulo.
"Faz
parte do processo de ajustar o mercado para a questão de eficiência e
segurança. É a necessidade de se ajustar o tempo todo", diz Coelho.
"Não estamos fazendo isso da noite para o dia. A gente trabalha para que a
experiência seja o menos frustrante [possível] para o mercado."
Segundo ele,
o Google trabalha há três meses com agências de publicidade digital para
instruir os profissionais da área.
Sciama, do
Google, diz que um exemplo bem-sucedido de substituição do Flash pelo HTML5 é o
tocador de vídeos do YouTube. "Como é um padrão aberto, que permite
modificações, substitui superbem."
Ele afirma
que conteúdo criado nesse novo padrão também está pronto para interação com
toques, própria dos celulares e tablets.
SEGURANÇA
Em um artigo
publicado no site AppleInsider, o jornalista Daniel Eran Dilger compara o
Android, do mesmo Google, à tecnologia Flash (que foi removida do sistema para
smartphones da empresa de internet) por causa do seu amplo uso e de sua
natureza insegura.
"Os
problemas de segurança do Android são piores do que os do software da
Adobe", escreveu, citando o exemplo da falha intitulada Stagefright, que
permitia que, com o envio de uma mensagem, hackers controlassem remotamente um
aparelho com o sistema do Google –a empresa disse ter arrumado a brecha.
"É
doloroso manter o Flash atualizado, mas segurança básica no Android não é
possível a menos que você seja um engenheiro habilidoso o suficiente para criar
seu próprio código", diz Dilger, citando aparelhos que deixam de receber
atualizações do Google.
Segundo ele,
uma tentativa frustrada de integrar o Flash ao sistema Android expôs
"centenas de milhões de usuários" em janeiro e não foi corrigida pelo
Google.
O Flash é
associado a diversos incidentes de segurança passados. O estopim para o
posicionamento público do Facebook e o fim de sua compatibilidade no Firefox
foi a divulgação dos e-mails da empresa italiana Hacking Team, que usava
brechas no software para os vírus que criava.
Em julho, o
Facebook se pronunciou pelo fim do uso da tecnologia, que é empregada em muitos
anúncios em páginas da internet, junto com a Mozilla, empresa responsável pelo
browser Firefox, que bloqueou o plug-in no mesmo mês em que uma falha de
segurança nele foi revelada.
Na semana
passada, a empresa de segurança F-Secure disse que houve um aumento no número
de vulnerabilidades passíveis de ser exploradas por criminosos no Flash.
"Tipicamente,
os criminosos têm como alvo algum software vulnerável amplamente usado no
mercado [caso do programa da Adobe]", escreveu em comunicado Timo
Hirvonen, pesquisador-sênior da companhia finlandesa.
Recomendações
de segurança incluem desinstalar o Flash ou desabilitá-lo até o momento em que
for necessário, além de manter o sistema e todos os programas instalados
atualizados.